Resenha do Livro a Criança e o Número – Constance Kamii

Ficha Técnica

Sumário:
1. A natureza do número
2. Objetivos para ‘ensinar’ número
3. Princípios de ensino
4. Situações escolares que o professor pode usar para ‘ensinar’ número
Apêndice: A autonomia como finalidade da educação: implicações da Teoria de Piaget

Descrição: 

A autora apresenta uma análise lúcida, bem informada e fundamentada na teoria de Piaget sobre as relações da criança com o número. Nesse livro estão colocadas algumas das questões cruciais que desafiam especialistas, professores e pais em relação à aquisição e ao uso do conceito de número pelas crianças de 4 a 7 anos. Livro essencial para os que gravitam na área educacional.

Resenha do Livro

“a finalidade da educação deve ser a de desenvolver a autonomia da criança, que é indissociavelmente social, moral e intelectual” (p.33).

Capítulo 1- A criança e o número

I. De acordo com Piaget, o conhecimento se dá em três níveis:

  • o conhecimento físico (ligado ao mundo concreto, ou observável dos objetos, por isso o professor deve explorar as atividades matemáticas que trabalham com as propriedades físicas como o peso e a cor),
  • o conhecimento lógico-matemático ( se desenvolve através das relações mentais com o objeto. As noções de igualdade, comparação, quantidade, classificação são exemplos de conhecimento lógico matemático. Assim começa a criança começa a construir individualmente a noção de número, a partir dos tipos de relações dela com os objetos.)
  • O terceiro é o conhecimento social que é o mesmo conhecimento cultural.

II. Piaget afirma que a construção do conhecimento se dá através de fontes externas e internas. Enquanto o conhecimento físico e o conhecimento social se processam fora do sujeito, o conhecimento lógico-matemático se dá no interior do individuo, ou seja, na mente.

III. Os números são aprendidos pela abstração reflexiva, á medida que a criança constrói relações, mas anteriormente a construção do conceito de numero, a criança necessita desenvolver algumas estruturas mentais:

  • a ordem, que se refere à capacidade que a criança desenvolve em arranjar, ordenar e contar objetos,
  • e a inclusão hierárquica, que se dá depois do desenvolvimento da relação de ordem. Esta última estrutura permite que aos poucos a criança vá percebendo a sequência dos numerais.

IV. A estruturas lógico-matemático só estarão bem estruturadas por volta dos setes anos ou oito e a partir desta idade, o pensamento das crianças se tornam reversíveis, ou seja, capaz de realizar mentalmente ações de duas coisas opostas simultaneamente.

V. É preciso que o professor tenha em mente que os conceitos de número não podem ser ensinados, mas construídos pela própria criança, por partes, ao invés de tudo de uma vez. Deve se também propiciar as crianças o contato com os materiais concretos como encorajar as crianças a colocar os objetos em relação, pensar sobre os números e interagir com seus colegas.

 

Capítulo 2-  Objetivos para “ensinar” número

I. O conhecimento de número  implica no desenvolvimento da autonomia intelectual. Para a visão construtivista, a autonomia é a finalidade da educação desse modo, uma criança não deve ser ensinada através de métodos tradicionais, como memorização, sinais de aprovação ou desaprovação do professor, pois tais instruções reforçam a heteronomia que significa o ato de ser governado pelos outros, que por sua vez é o contrário da autonomia, que significa o ato de ser governado por si mesmo. A autonomia é indissociavelmente social, moral e intelectual, isso significa levar em consideração o pensar autônomo e critico, e o papel do professor deve ser de desenvolver na criança a atitude consciente e não deve inserir no educando a dependência, de seguir normas sem contestá-las, uma ação sistematizada coordenada pelo adulto á repressão.

II. O sucesso escolar depende muito da habilidade de pensar autônomo e criticamente da perspectiva de vida em grupo. Assim, o objetivo para ensinar o número é o da construção que a criança faz á sua maneira, incluindo a quantificação de objetos e inevitavelmente ela consegue construir o número. O meio ambiente pode indiretamente facilitar o desenvolvimento do raciocínio-lógico, ou pode retardar, isso se dá nas diferenças interculturais e socioeconômicas.

III. Para Piaget, há uma diferença entre os símbolos e os signos. Os símbolos são criados pela criança e mantêm uma semelhança figurativa dos objetos e os signos parti do conhecimento social. É um erro acreditar que ensinando as crianças a contar e a escrever os numerais estarão ensinando conceitos numéricos, o que é um equívoco, pois na verdade está apenas fazendo com que ela decore os números ao invés de construir a estrutura mental do número. Não que não seja bom para a criança aprender a contar e escrever numerais se isto lhe for de seu interesse, mas só isto não basta.

IV.  O professor deve conhecer a diferença entre conta de memória e contar com significado numérico, este último só pode ser proveniente da estrutura lógico matemático, construída pela criança em sua cabeça. A tarefa do professor é encorajar a criança a pensar ativamente e de forma autônoma em todos os tipos de situações, em todos os tipos de relação, pois as crianças não constroem o número isoladamente.

Capítulo 3- Princípios de Ensino

I. O professor deve priorizar o ato de encorajar as crianças a pensar sobre os números, relacionar e interagir com autonomia utilizando os conceitos já trazidos da sua vida para dentro do ambiente escolar e fazendo novas relações.

II. Kamii escreve sobre os princípios de ensino, que são apresentados em três títulos:

1)A criação de todos os tipos de relações – a criança que pensa na sua vida cotidiana, consegue raciocinar sobre muitos outros assuntos ao mesmo tempo. (o professor têm um papel crucial de indiretamente encorajar a autonomia de pensamento, principalmente quando há uma situação de conflitos, onde a criança pode desenvolver a mobilidade e coerência do pensamento, ou seja, raciocinar logicamente, inventar argumentos que façam sentido e sejam convincentes, no entanto existem crianças que não são de alguma forma envolvidas em situação com enorme quantidade de relações ou situações, agem passivamente, pois são forçadas á se submeterem a obediência, mas com a intervenção do professor ele pode assim promover ou impedir o pensamento da criança)

2) A quantificação de objetos – deve-se apoiar a criança a pensar sobre número e quantidade de objetos, quantificando-os com conhecimento lógico, comparando conjuntos móveis. (Quando a professora encoraja a criança a quantificar logicamente, a fazer conjuntos com objetos móveis, há uma diferença em ter a contagem mecânica e a contagem escolhida pela criança para resolver um problema real na sua própria maneira, uma vez que a criança constrói a lógica da correspondência um-a-um por abstração reflexiva, dessa forma as atividades ou exercícios tradicionais como as cartilhas, são completamente supérfluas.)

3) Interação social com os colegas e os professores – apoiar a criança a conversar com seus colegas e imaginar como está desenvolvendo o raciocínio em sua cabeça. Afirma que o choque de opiniões que surgem e os esforços para resolver certas situações entre eles envolve a autonomia, a confiança e habilidades matemáticas.

 

Capítulo 4- Situações escolares que o professor pode usar para “ensinar” número

I. O conhecimento matemático é construído pelas crianças dentro do contexto da criança, então não adianta “ensinar” o conceito matemático se não for através de situações que conduzam á quantificação de objetos, de forma lúdica, como os jogos em grupo e a vida diária.

II. Para se ensinar quantificação, é necessário ligá-la à vivência da criança, distribuindo os materiais, dividindo os objetos em partes iguais, coleta dos objetos, registro de dados e arrumação da sala de aula e votação. Os jogos também proporcionam condições de desenvolver o pensamento lógico-matemático e começa a fazer representações, desenvolve as estruturas mentais indispensáveis para a construção e conservação de números.

III.  O jogo com alvos, como bolinhas de gude e o de boliche, são bons para a contagem de objetos e a comparação de quantidades, o jogo de esconder envolve divisão de conjuntos, adição e subtração, as corridas e brincadeiras de pegar, envolve quantificação e ordenação de objetos, os jogos de tabuleiros, são usados para trabalhar também a construção de quantificação, os jogos de baralho, desenvolve o pensamento lógico e numérico. Trabalhar com jogos precisa também de atenção do professor sobre os alunos para identificar os objetivos a ser trabalhado e escolher o jogo certo para cada conceito matemático.

IV. Há inúmeras maneiras naturais e indiretas para o professor estimular a criação de todos os tipos de relações em ter espécies e eventos, e dentro de um quadro de referência piagetiana, que pela abstração reflexiva se dá a construção de uma estrutura numérica pela criança. O ponto central e essencial da teoria de Piaget é a da abstração reflexiva e da construção de uma estrutura numérica pela criança, através da abstração reflexiva.

No apêndice:

Texto de Piaget, onde o teórico fala sobre a importância da moralidade na autonomia. E esclarece a compreensão, em três partes:

a) A Autonomia Moral; b)  Autonomia Intelectual; c) Autonomia como finalidade de educação

a) A AUTONOMIA MORAL onde as crianças adquirem os valores morais, internalizando-os através do contato com o meio ambiente. Segundo Kamii, a punição acarreta três tipos de consequências: 1. Cálculo de riscos: a criança repetirá o mesmo ato que ocasionou a punição, só que dessa vez tomará cuidado para não ser descoberta. Ou pode decidir que, mesmo sendo descoberta, o prazer de cometer o ato infracionário compensa a punição. 2. Conformidade cega: as crianças decidem que é melhor obedecer os adultos sempre para garantir a sua segurança e respeitabilidade. 3. Revolta:  Algumas crianças, que antes se comportavam bem, decidem parar de obedecer e começar a viver por si próprias. Contudo, existe uma grande diferença entre autonomia e revolta. O não-conformismo ou a revolta não tornam, necessariamente, a pessoa mais autônoma.

As recompensas reforçam a heteronomia. Para que as crianças desenvolvam a autonomia moral, os adultos devem incentivá-las a construir por si próprias, os seus valores morais. Entretanto, é preciso ser realista, não há como evitar totalmente as punições. É possível, porém trocar as punições pelo que Piaget chamou de sanções por reciprocidade. 
Kamii aborda quatro exemplos de sanção por reciprocidade: 1. Exclusão temporária ou permanente do grupo: Quando uma criança perturba a leitura de uma história, por exemplo, a professora pode dizer. – “Você pode ficar aqui sem nos aborrecer, ou terei que lhe pedir que vá para o canto dos livros ler sozinha.” 2. Apelar para a consequência direta e material do ato: A criança que conta uma mentira pode ser confrontada com o fato de que as pessoas podem não acreditar mais nelas. 3. Privar a criança de uma coisa que ela usou mal: A criança que usa mal um brinquedo pode ser impedida de usá-lo até que aprenda a utilizá-lo corretamente. 4. Reparação: A criança que estraga um trabalho de um colega pode ser convidada a ajudar a consertá-lo. Contudo, para que essas sanções por reciprocidade não se transformem em punição, é preciso que haja uma relação de afeto e respeito mútuo entre a criança e o adulto. Enfim, a autora destaca que os valores morais não são internalizados ou absorvidos de fora para dentro, mas construídos interiormente, através da interação da criança com o meio.
b) AUTONOMIA INTELECTUAL, as crianças adquirem o conhecimento criando e organizando relações. Uma pessoa intelectualmente autônoma necessita estar realmente convencida do seu erro para aceitar a correção de outras pessoas, enquanto as heterônomas acreditam em tudo o que lhe dizem, sem questionar. A criança não adquire conhecimentos internalizando-os diretamente do seu meio ambiente. Em vez disso, as crianças constroem o conhecimento criando e coordenando relações entre objetos, fatos, etc. Se o professor simplesmente marca como erro uma resposta do tipo “4 + 2 = 5”, sem tentar reconstituir o raciocínio da criança e convencê-la do seu erro, a tendência é que essa criança acredite que a verdade advém somente da cabeça do professor. “Quando uma criança diz que 4 + 2 = 5, a melhor forma de reagir, ao invés de corrigi-la é perguntar-lhe – ‘Como foi que você conseguiu 5?’ Assim, ao tentar coordenar seu ponto de vista com o do outro, frequentemente ela se dá conta do seu próprio erro.” (p.115)

c) AUTONOMIA COMO FINALIDADE DE EDUCAÇÃO, conceituando novos objetivos.

 

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2 Comentários

  • Gostei muito! Já li mas faz algum tempo: uns 3 anos! Achei as ideias das resenhas ótimas! Sugestões: Delia Lerner: Ler e escrever na escola: o real, o necessário e o possível; Katia Smole: A matemática em sala de aula;